Indira
Valente Reyes
(Pelotas,
1981)
Es
estudiante de Medicina en la Universidad Federal de Pelotas,
Brasil. Ha llevado algunos cursos de creación literaria
con la profesora Hilda Simoes Lopes. Tiene cuentos y cuentos
minimalistas publicados en los libros Tarde demais
para nao publicar, Contos e pespontos y la
Revista da Academia Sul Brasileira de Letras.
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PESSOAS
INTEIRAS
(Tiempo estimado de
lectura: 5')
Sexo
vem do latim, seccare, separar. Somos aos meios. Parte
da integridade no macho, a outra, na fêmea.
Juntos uno.
Terça de verão. Entrevisto mulheres
num bairro da borda. As ruas de pó, as casas
de escuro, os esgotos das portas. Na prancheta outro
número sem campainha. Palmas. Enquanto aguardo,
um perfume doce transloca meu corpo: flores de bicos,
sem pontas, redondas, com dobras. A imagem delas se
desmancha e entorpece. Muita vida enche. E a mata
verdeja a casa. Depois de um tempo descontrolado,
acredito maior do que minha paciência habitual,
resposta às mãos batidas. Sai das madeiras
a ruiva. Primeiro chegam os olhos: azuis, riscados
de azul. Não vi piscarem durante os três
minutos que fiquei. O short roxo e a blusa vermelha
escondiam o ventre sob o qual disse extirpado o útero.
Nem perda, nem exclusão da pesquisa. Mulher
além do que estudo: reprodução.
Prossigo. As ruas de pó, as casas de escuro,
os esgotos das portas.
Enquanto andamos sem óculos alguns nos passam
inteiros
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MÃE:
UM SER SOBRENATURAL?
(Tiempo estimado de
lectura: 5')
A natureza se estabiliza
da forma mais desordenada possível
A sacola de
pão no braço esquerdo enquanto gira
a chave da casa com mão direita que ainda carrega
a bolsa e não pode deixar cair a pasta. Os
joelhos seguram o casaco e desequilibram o guarda-chuva
molhado. Abre a porta, de dentro sai o gurizinho abraçando
a mãe e roubando o pacote, da sala um grito
sobre as vozes da televisão chamam a outra
parte da mãe. Coloca os apetrechos na mesa
da cozinha, põe a chaleira no fogo, busca a
sacola da padaria largada na banqueta do telefone
fechando a porta. Os dedos, disciplinadores ineficazes
do cabelo, acomodam o chanel atrás da orelha
para melhor visualizar o caminho da vassoura seguidora
de farelos na forração, e assim, redescobre
o menino sorrindo no sofá, atracado no miolo
do cassetinho. Dá um beijo na testa de cada
filho e avisa a menina do pão novo. Ouve duas
histórias diferentes, contadas ao mesmo tempo
pelas crianças de idades distintas, ao passo
que termina de pentear a filha saída do banho.
Pára o barulho do chuveiro, então levanta,
fecha as janelas contra os mosquitos da noite e carrega
a vassoura de volta, mais as coisas que, na sua ausência,
haviam ido e precisavam ter sido voltadas. Passa na
cozinha e despeja a água quente na garrafa
térmica. Chega na lavanderia, liga a máquina
a encher-se na espera das roupas claras; o ferro amorna
crescente, até o máximo, que demora
semelhante à recolhida do varal; passa um pijama
e as camisetas do uniforme dos menores. Indo para
o quarto, leva uma pilha de roupas escuras acrescida
de toalhas dobradas do início ao fim do corredor.
Lá encontra um beijo com o marido vestido de
chambre, o qual procura, na pilha dos braços
dela, o pijama acostumado. No guardar das peças,
já tira a camisola do gaveteiro para juntar
àquela toalha ainda amassada de cordas e prendedores.
Pega. Agora um banho. Respira. Vapor de chuveiro quente.
Ao pendurar sua roupa, abaixa os ombros e bufa com
as pontas dos olhos caídas - o cabide também
está ocupado pela natureza da casa.
Abril,
2003.
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©
Indira Valente Reyes, 2004
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