SONHOS
QUE NÃO SÃO...
O
cão joga da sarjeta um fluído venenoso,
mescla de lágrima e esperma, redemoinha no
bueiro e cai dentro do sonho.
A
moça, fria costela, doce serpente, quebra
as retinas do peão, rodopia o suspiro feito
pião no centro do sonho.
As
cálidas mãos sempre acordam as crianças
sem dentes e plenas de inveja, só silêncio
sabem elas pronunciar no meio do sonho.
As
esquinas, as palavras, as jogadas, as primitivas
frases, os versos, cascatas de fúria, sem
vento nem tempo no sonho.
O
ébrio tem no peito as flechas de beijos longos,
as constelações dos postes de luz,
abre os olhos e está no sonho.
O
amante inverte as ruas da janela de seu quinto andar,
as ondas trafegam na entrada do seu sonho.
O
tédio do sofá levanta a bunda, o copo
da água pega a mão, a queda apática
na cama e sonho.
A
prata da lágrima estanca os lábios,
soluça despedaços de vidros lá
do alto, sem asas, chove vidro no sonho.
Os
vizinhos tomados pelo samba fincado em viadutos
paralelos de música e aflição
entre carros e sonhos.
Na
cidade todos os sonhos são, todos os sonhos
são na cidade um só sonho...